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Sexta-feira, 13 de Junho de 2025

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Geopolíticos e a Urgência de uma Solidariedade Concreta e Transformadora 3a63t

Ivan Rios
Por Ivan Rios
Cuba e a Luta pela Autodeterminação dos Povos
(Foto: Bigstock) Reprodução/Divulgação
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Por mais de seis décadas, Cuba resistiu ao embargo econômico mais duradouro e severo da era moderna. Imposto pelos Estados Unidos desde 1960, o bloqueio não se limita a sanções comerciais, mas visa estrangular a economia cubana e minar sua soberania. Apesar do discurso de apoio de países progressistas como o Brasil, poucos adotam medidas concretas para enfrentar essa injustiça. 4h95b

Durante o governo de Donald Trump, o cerco se intensificou com mais de 240 novas sanções, afetando desde transações bancárias até importações essenciais. O governo de Joe Biden manteve a maioria dessas restrições, e Trump, em um segundo mandato, ampliou ainda mais o bloqueio, reforçando a lista de entidades restritas e ampliando barreiras financeiras e comerciais. Atualmente, o embargo contra Cuba está respaldado por um complexo conjunto de seis leis distintas que restringem seu o ao sistema financeiro global.

Cuba também voltou à lista de países que "não cooperam plenamente na luta contra o terrorismo", limitando sua capacidade de adquirir equipamentos e serviços estratégicos. A alegação dos EUA baseia-se na presença de fugitivos americanos na ilha e na falta de negociações para sua extradição. Essa classificação não apenas reforça o isolamento diplomático, mas também afasta investidores e parceiros comerciais.

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O embargo contra Cuba é mais do que um conflito bilateral; é um teste para aqueles que defendem um mundo multipolar. Se o Sul Global deseja romper com a hegemonia estadunidense, a hora de agir é agora. Não basta gestos simbólicos, é necessária uma resposta diplomática firme, alianças econômicas estratégicas e uma mobilização coordenada contra essas sanções. Mais do que resistência, trata-se de um compromisso histórico com a autodeterminação e a justiça global.

Desde a intervenção militar na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022, a Rússia tornou-se o país mais sancionado do mundo. No entanto, permanece firme economicamente e geopoliticamente, contando com o e de China, Índia, Irã e Brasil, que mantêm relações comerciais estratégicas com Moscou, desafiando diretamente as sanções ocidentais. Esse cenário levanta uma questão essencial: se há disposição para enfrentar o bloco euroestadunidense em defesa da Rússia, por que há tanta hesitação em apoiar Cuba?

A diferença entre os dois casos está no peso geopolítico das nações envolvidas. A Rússia dispõe de um vasto arsenal nuclear, recursos naturais essenciais, assento permanente no Conselho de Segurança da ONU e uma economia que continua central para o fornecimento global de energia. Já Cuba, sem poder militar significativo ou influência econômica estratégica, representa um desafio ideológico ao imperialismo norte-americano, mas sem a capacidade de impor grandes custos diplomáticos a Washington.

Essa realidade torna Cuba um alvo "fácil" para a manutenção do embargo, sem que as potências globais sintam necessidade de enfrentar os EUA por sua causa. No entanto, aceitar essa lógica sem contestação revela uma enorme contradição moral e política. Se líderes progressistas, como o presidente Lula, de fato defendem a autodeterminação dos povos, por que a resistência contra as sanções não se estende de maneira consistente à Cuba?

O dilema é claro: manter relações pragmáticas com Washington sem desafiá-lo em questões sensíveis significa ceder à hegemonia estadunidense. A hesitação diante da injustiça contra Cuba não é apenas uma escolha diplomática, é uma traição à própria retórica de soberania e solidariedade que o Sul Global afirma defender.

Na teoria, países que se identificam com o socialismo ou com políticas anti-imperialistas, como a China, deveriam constituir uma linha de frente na defesa concreta de Cuba. Na prática, no entanto, essa solidariedade mostra-se limitada e seletiva. A China, embora seja um parceiro comercial estável de Cuba, tem priorizado investimentos bilionários em infraestrutura e tecnologia em países da África e Ásia, enquanto o apoio à ilha segue modesto e notoriamente insuficiente.

Essa seletividade levanta dilemas éticos, que envolve pragmatismo e predisposição (ou melhor, a ausência desta): se Cuba fosse um mercado com vastos recursos minerais ou grandes reservas de petróleo, o apoio da China seria mais incisivo? Essa é uma pergunta que evidencia como, mesmo entre nações que criticam o imperialismo ocidental, a lógica do mercado e da geopolítica muitas vezes se sobrepõe à solidariedade ideológica. A hesitação de muitas nações em confrontar diretamente o embargo também revela um pacto silencioso com a ordem mundial estabelecida, o que, em última análise, reforça a opressão que pretendem combater. Nesse aspecto é importante destacar que a própria postura diante de tantas injustiças soa como concordância tácita e cabal à nefasta política estadunidense.

O Brasil, ao longo das últimas décadas, teve momentos expressivos de aproximação com Cuba, como nos governos de Lula e Dilma Rousseff, e momentos de distanciamento e retração. A relação é marcada por simbolismos e ações práticas que, no entanto, ainda carecem de continuidade e estrutura estratégica. No atual contexto global, onde a necessidade de desafiar o embargo dos EUA se torna uma exigência moral e política, o Brasil pode e deve assumir uma liderança mais assertiva.

Além de reforçar o comércio bilateral com Cuba, o Brasil poderia articular uma frente regional, junto a países como México, Argentina e Bolívia, para estabelecer mecanismos financeiros e comerciais alternativos ao dólar, como o uso de moedas locais e sistemas de compensação multilateral. Isso permitiria driblar parte das sanções extraterritoriais impostas pelos EUA e fortalecer a autonomia econômica cubana. Adicionalmente, iniciativas de cooperação técnica nas áreas de agricultura sustentável, energia renovável e saúde pública poderiam representar um novo modelo de solidariedade estrutural.

Não existe neutralidade moral diante de um embargo que provoca escassez de alimentos, medicamentos e combustível a uma população que nunca ameaçou ninguém. Não há como se calar diante de um bloqueio que impede o simples funcionamento da vida cotidiana em Cuba, e continuar afirmando, com ares progressistas, a defesa da autodeterminação dos povos. Ou se defende Cuba com todas as consequências dessa decisão, ou se está, consciente ou não, a serviço da manutenção da ordem imperial.

A coerência entre discurso e prática é o crivo ético de qualquer política internacional que se pretenda justa. E é nesse crivo que a maior parte dos governos do Sul Global tem fracassado miseravelmente. É preciso romper com a covardia diplomática, com a hipocrisia calculada e com a subordinação estratégica ao império decadente. A solidariedade não pode ser apenas simbólica, ela precisa ser operacional, ousada e confrontadora.

Mesmo cercada por todos os lados, Cuba mantém um sistema de saúde exemplar, envia médicos para salvar vidas ao redor do mundo, desenvolve vacinas com recursos ínfimos, e continua formando gerações com educação gratuita e universal. Isso não é apenas resistência: é insubmissão com projeto. É a prova de que outro mundo não apenas é possível, ele já existe, apesar de sitiado.

É por isso que Cuba é perseguida. É por isso que Cuba inspira. Porque ela desafia o coração do sistema capitalista ao mostrar que é possível colocar a vida acima do lucro, a dignidade acima do capital, e a soberania popular acima das corporações. Por isso, defender Cuba não é apenas um gesto de solidariedade, é um compromisso com a própria possibilidade de emancipação humana.

O sistema capitalista, em sua fase atual de agonia neoliberal, mostra diariamente sua falência: crise climática, pandemias, fome, guerras, desigualdade obscena, colapso institucional e populismos reacionários. É um modelo que não serve mais sequer às suas próprias promessas. Enquanto isso, Cuba, bloqueada, proscrita, difamada, continua a produzir exemplos de humanidade e racionalidade coletiva.

A inevitabilidade da vitória contra esse sistema não se dará apenas pela força das ideias, embora elas sejam necessárias, mas pela organização concreta de um novo internacionalismo. Um internacionalismo que reconheça Cuba não como exceção a ser tolerada, mas como farol a ser seguido. A solidariedade a Cuba é, portanto, o eixo que organiza a nova insurgência anticapitalista global.

A ausência de Cuba nas estruturas decisórias dos principais fóruns de governança emergente, como o BRICS e o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), representa não apenas uma lacuna geopolítica, mas também uma contradição flagrante no discurso de renovação da ordem internacional que esses blocos almejam representar. Negar à República de Cuba o o pleno ao financiamento e à capacidade deliberativa nesses espaços significa reproduzir, ainda que involuntariamente, as mesmas lógicas excludentes historicamente impostas pelo sistema internacional sob hegemonia euro-atlântica (euroestadunidense).

A condição de “parceira de diálogo” atribuída a Cuba durante a Cúpula de Joanesburgo (2023) constitui um gesto diplomático que, embora simbólico, carece de efetividade política e material. Em um momento em que se discute a transição para uma ordem multipolar, persistir na marginalização de Cuba, cuja trajetória histórica é marcada por um compromisso inquebrantável com a soberania nacional, a solidariedade internacional e a justiça social, enfraquece o próprio ethos emancipador dos BRICS e demais coalizões do Sul Global.

A plena integração de Cuba ao Novo Banco de Desenvolvimento é, antes de tudo, uma questão de coerência ética e política. Criado com a promessa de oferecer alternativas viáveis às instituições financeiras multilaterais tradicionalmente dominadas pelo Norte Global, o NDB não pode prescindir de uma nação que simboliza, talvez como nenhuma outra, a resistência ao imperialismo e a busca por autodeterminação econômica.

O o de Cuba a financiamentos estruturais proporcionaria as bases materiais necessárias para o desenvolvimento de projetos de infraestrutura, saúde, educação, energia e inovação científica, áreas em que o país já demonstrou excelência, mesmo sob severas restrições. Além disso, permitiria que tais financiamentos fossem realizados em moedas locais ou regionais, rompendo com a dependência do dólar estadunidense e, por conseguinte, com os mecanismos de coerção financeira que o acompanham.

A presença de Cuba nas instâncias deliberativas dos BRICS não deve ser encarada como concessão política, mas como reconhecimento de legitimidade histórica. A exclusão sistemática da ilha caribenha de fóruns centrais do Sul Global se justifica, quase sempre, pelo receio de desagradar os interesses estadunidenses. Essa postura não apenas fere os princípios da autodeterminação dos povos, como compromete a credibilidade moral e geopolítica dos próprios BRICS enquanto instrumento de transformação da ordem internacional.

É paradoxal que países recém-integrados ao bloco, alguns com histórico de alianças ambíguas com o Ocidente, tenham voz e o ao financiamento multilateral, enquanto Cuba, cuja trajetória é marcada por um compromisso inabalável com a soberania e a justiça global, permaneça em condição periférica. A correção dessa assimetria é imprescindível para consolidar um projeto de integração verdadeiramente democrático e contra hegemônico.

Para além de uma demanda ética, a inclusão plena de Cuba nas estruturas decisórias dos BRICS representa uma escolha estratégica com amplos dividendos geopolíticos. A posição geográfica da ilha, sua infraestrutura educacional avançada, sua expertise na área de biotecnologia e saúde pública, bem como seu histórico de cooperação internacional, tornam Cuba uma parceira de valor inestimável para projetos de integração regional e inovação científica.

Incorporar Cuba de maneira substantiva significa fortalecer a capacidade dos BRICS de atuar como polo de produção de conhecimento, desenvolvimento humano e articulação solidária. A valorização do saber e da prática socialista cubana no campo da saúde, por exemplo, pode servir de base para uma nova geração de políticas públicas cooperativas e inclusivas em todo o Sul Global.

  1. Reconhecimento diplomático pleno de Cuba nos blocos estratégicos do Sul Global, com o a financiamento e voz decisória nas estruturas do BRICS e do NDB.

  2. Desenvolvimento de um sistema financeiro paralelo ao dólar, envolvendo moedas digitais soberanas e bancos regionais independentes.

  3. Criação de um fundo global de solidariedade socialista, com participação de países, movimentos populares e sindicatos, voltado a projetos estratégicos em Cuba.

  4. Campanhas massivas de denúncia e mobilização popular, em universidades, parlamentos e redes sociais, contra o embargo e a omissão cúmplice de governos ditos progressistas.

  5. Uma cúpula internacional permanente de apoio a Cuba, com encontros anuais, relatórios técnicos e metas verificáveis de cooperação concreta.

Levantar Cuba é mais do que uma tarefa moral, é um imperativo histórico. É recusar-se a aceitar a barbárie como destino. É afirmar que os povos têm o direito de construir sua própria história, livres de chantagens, cercos e bloqueios. É erguer-se contra a máquina de moer vidas chamada imperialismo e declarar, com todos os pulmões da Terra: basta.

A solidariedade com Cuba será o critério do nosso compromisso real com a transformação do mundo. Quem não a assume, repete os gestos vazios dos que dizem estar ao lado dos oprimidos, mas se ajoelham diante do opressor. A hora da escolha é agora. A hora da coragem é agora. A hora de levantar Cuba é agora, porque quando ela se ergue, não se ergue sozinha: ela ergue consigo a esperança de toda a humanidade.

A história julgará nossa geração não apenas por suas palavras, mas por suas ações. Em tempos de crise sistêmica do capitalismo e de renovação dos imperialismos, a solidariedade internacionalista não é uma opção, é um dever histórico. Cuba representa o que há de mais corajoso, digno e coletivo em nossa memória de luta. É a trincheira viva de uma utopia que resiste.

Levantar Cuba é levantar conosco mesmos. É sair do cinismo, romper com o medo, abandonar o comodismo do "possível" e ousar aquilo que ainda não existe, mas é urgente. Como dizia José Martí: “A trincheira da ideia vale mais do que uma trincheira de pedras.”

Este texto é uma trincheira de ideias. Mas para que ela seja útil, precisa de braços, vozes, pernas e coragem.

Se você chegou até aqui, a pergunta final é simples: está disposto(a) a transformar isso em luta real?

 

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Ivan Rios

Publicado por: 163l24

Ivan Rios 1o5nv

Sindicalista, historiador, crítico de cinema, escritor, membro do Comitê Baiano de Solidariedade ao Povo da Palestina, graduando em Direito, militante dos Movimentos de Promoção, Inclusão e Difusão Cultural no Estado da Bahia

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